Nesta segunda parte serão apresentadas planificações de poliedros com elevada fracção de vértices planos, de um poliedro com o número mínimo de vértices não-planos, de um poliedro toroidal, de um poliedro pontualmente flexível, de um poliedro flexível e de dois sólidos com arestas curvas. É de relembrar que são vértices planos os do interior da planificação.
Como vimos no exemplo da figura 15 da parte I, em que há três vértices planos, a existência de concavidades pode facilitar bastante o desenho das planificações. Da figura 24 à 34, são vários os exemplos de poliedros cujas planificações possuem vértices planos.
Nesta secção será apresentado um processo para imaginar um poliedro toroidal e a sua planificação. Este processo pressupõe que é possível:
A primeira parte do processo consiste em orientar um hexaedro (dois
tetraedros colados) segundo a descrição da figura 38.
A segunda parte consiste em unir quatro hexaedros, todos orientados de
maneira análoga.
A terceira parte consiste em adicionar vértices em localizações bem
determinadas. Considere os vértices indicados na figura
38. Transforme C em C' por reflexão no plano ABD.
Obtem-se
O erro que comete é da ordem de um e meio por cento. Os erros resultantes da espessura da cartolina e da montagem dos poliedros também são desta ordem e também não são, de maneira geral, significativos. No entanto há dois casos em que estes erros seriam inaceitáveis:
O poliedro da figura 40 poderá parecer flexível mas nem sequer é um poliedro. As faces só parecem encaixar umas nas outras porque a cartolina se deforma ligeiramente. As arestas têm comprimentos mal calculados. Um cálculo, feito com base na figura 41, indica que se deveria ter em vez de . Por outro lado, a figura 42 indica que o poliedro é apenas pontualmente flexível [7]. Considera-se flexível todo o poliedro cujos ângulos interfaciais podem variar sem alterações da forma das faces. Foi demonstrado que estes poliedros têm volume constante [8], possuem arestas côncavas [9] e são flexíveis numa gama de ângulos interfaciais [10]. Um exemplo devido a Klaus Steffen da Universidade de Dusseldorf é o da figura 43.
Estudos de David Huffman [11] mostram que sólidos geométricos construidos a partir de folhas de papel podem possuir arestas curvas. Estas são mais difíceis de desenhar e vincar do que as rectas, no entanto, permitem a construção de sólidos bastante simples. É claro que estes sólidos não são poliedros mas podem ser construidos de maneira análoga, em particular, de maneira análoga aos poliedros com elevada fracção de vértices planos. Por exemplo, podemos adaptar a planificação 32 para obter a da figura 44. A forma das arestas curvas pode ser definida por uma expressão quadrática ou por um ``spline'' de Bézier sem inflexões. Se pegarmos num tetraedro e curvarmos uma aresta obtemos um sólido como aquele cuja planificação se encontra na figura 45.
O autor agradece as críticas e as palavras de incentivo de Rui Rodrigues, Adérito Araújo, Eduardo Veloso e René Fonseca.