A História do Pai Natal e o cidadão Tuga
Ia o cidadão Portuga no seu carro, carregando uma pesada carga, quando repara que está a ficar com pouco combustível.
De repente, sendo isto na época natalícia, repara o cidadão Portuga que surge um Pai Natal à beira da estrada. O cidadão Tuga pára.
«Bom dia, caro amigo! É capaz de dar boleia aqui ao Pai Natal? Tenho muitas prendas para entregar.»
Ora, este Pai Natal apresenta uma cara que não lhe é estranha: um nariz batatudo, um olhar cativante. Faz mesmo lembrar outro cidadão que costumava ostentar um certificado falso de engenharia, tirado numa universidade já extinta, um vigarista de carreira. O cidadão Tuga repara na quantidade de sacos cheios que o idoso traz e pensa que não tem muito combustível no carro. Mas, movido pelo espírito natalício, aceita:
«Está bem, Pai Natal. Temos todos que fazer um esforço, trabalhar, trabalhar!»
«É mesmo isso, amigo!»
Continua o cidadão Tuga, acompanhado por este Pai Natal, quando repara num segundo Pai Natal à beira da estrada. O cidadão Tuga pára novamente. Este Pai Natal tem uma grande cara de parvo e olhos claros, e faz lembrar outro cidadão Tuga que tirou um curso de Economia numa faculdade privada, tendo toda a carreira «trabalhado» nas empresas dos amigos do seu partido. Este Pai Natal faz o mesmo pedido ao cidadão Tuga, carregar a carga. A carga é ainda mais pesada, a gasolina está mesmo no fim…O cidadão Tuga pergunta:
«Desculpe, mas acho que isto não aguenta mais…É mesmo preciso?»
«Temos todos que fazer um sacrifício, para o bem do país e de todas as pessoas. É que sabe, os mercados nunca param.»
O cidadão Tuga aceita. Desta vez, o carro está a abarrotar e a gasolina, já na reserva. O carro aproxima-se de um enorme deserto. Nesta altura o cidadão Tuga, que sempre teve uma curta memória, lembra-se que no passado já tinha dado boleia a outros Pais Natais, carregando com tão boa vontade a carga de outros. Só que agora, a gasolina acabou mesmo.
Nesta altura, os Pais Natais saem do carro. Surge uma avioneta particular que os levará, pela curta distância que falta percorrer. O cidadão Tuga desespera:
«Mas, Pais Natais! E eu? Fico aqui sozinho? Sem combustível? Que vou fazer? Afinal que carga traziam?»
Um dos Pais Natais (não interessa qual) responde:
«Olha, filho: em relação à primeira pergunta, ficas sozinho sim, porque és burro. Mas não te preocupes, há milhões como tu neste país. Em relação à segunda pergunta, não há nada que possas fazer, é tarde demais. Em relação à terceira pergunta, sabes como é: o mercado manda e tudo o que resta tem de ser entregue aos nossos patrões. São as regras do jogo. Chama-se a isto as «leis do mercado». É um jogo extraordinário. Mas infelizmente, só poucos ganham e tu, certamente, não vais ser um deles.»
Desesperado, o cidadão Tuga exclama:
«Mas caramba! Eu sempre acreditei que ia conseguir aguentar a carga, que isto correr bem! Esforcei-me tanto, acreditei! Não é justo!»
Os Pais Natais não conseguem evitar um esgar cínico. Um deles pergunta:
«Olha lá pá, antes de nos despedirmos e de te preparares para morrer à fome e à sede, ou de frio ou calor; tanto nos faz, diz-nos só uma coisa: que idade tens?»
«Tenho quarenta!»
«E com essa idade, SEU IMBECIL, AINDA ACREDITAS NO PAI NATAL?
Moral da história: há milhões de portugueses que ainda acreditam no pai natal, mas infelizmente ele não existe. Não é uma pena?