Imagine um país democrático em que os ladrões são muito respeitados. Isso deve-se ao facto de serem os ladrões quem mais contribui para o PIB. Por outro lado, os polícias têm por função elevar a qualidade dos roubos. Uma das principais actividades dos polícias é retirar a licença de roubo aos ladrões menos profissionais. Só os cidadãos mais aptos no roubo é que se podem tornar polícias.
Alguns polícias estudam a arte e a ciência do roubo. Existem escolas de ladroagem com diversas especializações: desde roubo no metro e roubo em supermercados até gestão de máfias e economia paralela. Os ladrões deste país são tão bons que até são aliciados para trabalhar noutros países. Os estrangeiros vêm aprender nas escolas do país. Uma percentagem importante dos elementos do governo são ex-polícias.
Porém, a certa altura, uma parte da população sentiu-se excluída do "bolo", fez uma revolução e tornou-se independente. Os ladrões que operavam nesse território foram expulsos. O país ficou mais pequeno e com um excesso de ladrões.
Tinha ficado mais difícil roubar. Por isso, alguns ladrões candidataram-se ao governo prometendo, nas suas campanhas, que ninguém seria impedido de se inscrever nas escolas superiores de ladroagem. Como os cidadãos também queriam roubar mais, elegeram-nos. Os polícias, tendo sido afastados do governo, viram-se obrigados a aumentar a capacidade das escolas. Muitos polícias, que andavam na rua a apanhar ladrões amadores, foram integrados nos quadros das escolas. Os ladrões perderam profissionalismo e tornaram-se mal sucedidos nas escolas. Os ladrões do governo, vendo que não seriam reeleitos devido à redução do número de licenciados em roubo, impuseram restrições ao financiamento das escolas com mais insucesso. Os polícias dependiam fortemente do financiamento e convenceram a máfia das nações de que contribuiriam para o prestígio da mesma. A máfia das nações financiou o país sabendo que era um roubo.
Luís Gonçalves (Docente do Departamento de Física da FCT/UNL desde 1994)