Venho, através desta reclamação, manifestar a minha perplexidade perante uma carta que recebi deste centro de emprego com a referência INT 2013.05.01 convocando-me para uma ‘sessão de informação colectiva’ para o dia 2013.05.15.
Após quase dez anos de serviço docente como professor contratado, fiquei essencialmente desempregado em 2006 até à presente data. Recebi o subsídio de desemprego e subsequente a que tinha direito, após Setembro de 2006 e durante o período previsto, que acabou como se entende, há muitos anos.
Durante esse tempo de desemprego, numa época em que a situação económica e social do país já era o que se sabe, cumpri com as minhas obrigações de apresentações quinzenais, elaborei um ‘plano de pessoal de emprego (há quase sete anos atrás!), realizei um curso de formação que não me serviu para nada (senão para me aperceber, durante uma curta experiência, da forma oportunista e chico-espertista como funcionam as empresas em portugal) e nunca tive qualquer oportunidade de emprego que me fosse proposta pelo centro de emprego. Pelo contrário, candidatei-me a centenas de anúncios e nunca mais consegui.
Consigo compreender que o Centro de emprego (ou melhor dizendo, de desemprego) convoque as pessoas que vivem (ou melhor, sobrevivem) com os seus subsídios (ou de acordo com alguns, ‘regalias’), e que tenham um pequeno e efémero apoio da segurança (ou melhor, insegurança) social a comparecer perante o mesmo; mas não entendo ou consigo aceitar que o Estado ache razoável convocar desempregados que NEM SEQUER têm subsídio de desemprego, emprego, ou – sejamos realistas – qualquer hipótese de empregabilidade, sobretudo após uma determinada idade, a comparecer a qualquer tipo de convocatória obrigatória (sob a consequência de lhe ser anulada a inscrição e, portanto, deixar de fazer parte das estatísticas dos desempregados durante 90 dias).
Pois é exactamente a motivação de utilizar meios desleais para manipular as estatísticas do desemprego, que está na origem destas convocatórias. Só quem acredite no coelhinho da Páscoa ou no Pai Natal acredita que esta ‘sessão de informação colectiva’ serve qualquer outro propósito ou vai beneficiar os desempregados que já não têm qualquer apoio subsidiário. A menção ao ‘plano pessoal de emprego’, que data no meu caso de há quase sete anos atrás (quando de facto tinha subsídio) é apenas uma desculpa para tornar ‘obrigatória’ esta comparência abusiva que não terá qualquer tipo de efeito prático.
Não só é óbvio que o número de desempregados em portugal, considerando (ainda) os muitos precários é maior do que as ‘estatísticas’ do governo dizem, como é óbvio que muitos desempregados simplesmente desistem de estar inscritos porque sabem que isso nenhuma diferença traz em termos de hipóteses de empregabilidade. Mas agora, querem também excluir das ‘estatísticas’ desempregados que nem sequer beneficiam de qualquer apoio social (há anos!!!!), porque sabem que muitos como eu se recusarão a comparecer a esta farsa escandalosa e desleal.
Inscrevi-me o ano passado no centro de emprego para poder contribuir para estatísticas mais honestas. Não por qualquer outra razão fantasiosa. Mas vejo que até nisso o Estado encontra formas hipócritas de manipular os números.
Afinal, depois de saquear indecentemente empregos, salários, subsídios sociais, reformas de pessoas cujos contratos com o Estado está a ser sistematicamente desrespeitado inconstitucionalmente e ilegalmente; implementar ‘taxas de sustentabilidade’ surreais, impostos incríveis, roubando subsídios de férias e de natal; é claro que as pessoas não passam de números para este governo, de números: a única noção que assume algum sentido para os tecnocratas egoístas que cruelmente nos saqueam.
Como sei que não posso fazer diferença sendo apenas um número entre tantos números ‘estatísticos’, fá-lo-ei como indivíduo com opinião própria, vontade própria e sentimento de revolta, usando dos meios de que os cidadãos dispõem, mas neste país miserável não usam, para recusar esta vergonha. Se há alguma razão para a qual este texto se escreva hoje, é exactamente para desenvolver uma recusa activa relativamente à forma vergonhosa como o Estado português trata os seus cidadãos durante esta ‘crise’ cujos resultados estão perto de nos conduzir a um colapso total, social, económico. Está em risco a própria sobrevivência e dignidade dos cidadãos, está em risco a própria democracia. É a altura apropriada, de facto, para dizer NÃO.