A Arte das «adegas» de charutos: um Hobby para puros degustadores de Aromas
Cigarrilhas e Charutos
Ao contrário das cigarrilhas, que são produzidas com tabaco picado (por vezes, misturadas com papel moído e outros aditivos, como aromas extra-tabaco), um bom charuto é constituído produzido unicamente a partir de folhas de tabaco – daí o termo Puro.
Figura: Charuto e cigarrilhas da marca Davidoff
Algumas cigarrilhas podem proporcionar ao apreciador bons momentos de degustação, tendo ainda a vantagem de serem consumidas em menos tempo (mais ou menos o mesmo tempo que um cigarro, mas com um sabor mais próximo de um charuto). Em relação ao resto, não vale a pena comparar muito com os charutos. Como em tudo, há cigarrilhas de qualidade e de má qualidade, charutos bons e maus.
Outra confusão habitual relaciona-se em distinguir as cigarrilhas dos charutos pelo critério do tamanho, quando a diferença essencial tem a ver com o tratamento das folhas de tabaco num e noutro caso: Para preparar os charutos as folhas são seleccionadas, fermentadas e passam por um processo de maturação mais ou menos prolongado. As folhas são em princípio manuseadas para serem enroladas, de onde um Puro é literalmente preparado à mão a partir de folhas inteiras e fermentadas e a cigarrilha, constituída por tabaco picado e que é tratado de forma muito mais simples. Também existem alguns charutos feitos à máquina de boa qualidade (algumas marcas alemãs e holandesas, por exemplo), mas neste contexto, não iremos desenvolver esse assunto.
Existe uma grande variedade de marcas, de vitolas (formatos/tamanhos) e de origens. O mito do charuto cubano – «o melhor tabaco do mundo » - não é inteiramente verdade: Existem charutos excepcionais não cubanos, não só os dominicanos (os famosos Davidoff), como hondurenhos, brasileiros, ou produzidos noutras partes do mundo, com ou sem sementes de tabaco cubano. No entanto, é verdade até certo ponto que as condições ideais para o cultivo e fabrico dos charutos (humidade, temperatura, terrenos, plantas) são aquelas que se encontram em determinadas regiões de Cuba.
A sua «adega» pessoal de puros
É muito bonito e fica bem segurar um charuto com uma anilha de Montecristo ou de Cohiba num restaurante fino (se tiver um bom cartão de crédito e um fato de 5000 Euros podem os empregados até fazerem-lhe uma vénia ! ), mas como em tudo na vida, o hábito não faz o monge. Experimente comprar uma caixa de Habanos numa tabacaria vulgar, em que os charutos não são guardados em condições adequadas, e vai degustar algo de qualidade incomparavelmente inferior a um bom Puro baiano ou Hondurenho após ter sido convenientemente guardado num Humidor bem controlado por um usuário ou vendedor culto na arte dos charutos. Como tudo na vida, o que vale é o conhecimento e não a ostentação.
Este pequeno artigo é dedicado portanto à arte da conservação dos puros. Como acontece com os vinhos, há coisas que melhoram com a idade e os bons charutos são uma delas.
Como conservar os seus puros ? Podíamos em primeiro lugar, onde os escolher e como os escolher ? Como avaliar a sua qualidade pelo olfacto, visualmente e pelo tacto ? Como degustá-los ? Como acender um charuto ? Questões aparentemente tão simples quanto estas são de facto aprendidas, como tudo na vida, não se nasce ensinado.
Não vamos desenvolver este tema, porque consideramos modestamente não sermos n’ele peritos, mas digamos que um charuto pode ser avaliado pelo seu sabor/aroma (picante, doce, «amadeirado», «frutado», etc – em Inglês, «spicy», «woody», «fruity», «leatherly», etc) e pela sua intensidade/fortaleza (Forte, Médio, Suave…). Mais uma vez isto nada tem a ver com a qualidade dos charutos: Há charutos excepcionais suaves, como os há maus, e outros com fortalezas elevadas excepcionais e outros péssimos suaves, médios ou fortes.
Este artigo é dedicado, também, àqueles que já são fumadores, incluindo-se neste grupo as pessoas que apreciam todas as formas de tabaco. Não aconselhamos, portanto, a experimentar qualquer forma de tabaco a pessoas que não fumam e nunca fumaram. Se é o caso, e embora estatisticamente a incidência de doenças associadas ao fumo seja consideravelmente menor naqueles que fumam exclusivamente charutos do que naqueles que fumam cigarros, não podemos incentivar ninguém a fumar.
Não se guie necessariamente pela marca ou pelo preço. A maioria das pessoas que fazem isso não entende de facto de charutos. É evidente que se aplica aqui a mesma regra que em relação a qualquer outra iguaria dos sentidos - Quanto melhor, em princípio mais caro, mas nem sempre. Por outro lado, trata-se também de uma questão de gosto e de hábito. À medida que for experimentando mais marcas, vitolas, sabores e bebidas que acompanham a degustação (Cognac, Porto, Whisky, etc) irá descobrir o impressionante mundo dos puros e da sintonia de sabores e aromas que aqui irá encontrar). Pessoalmente, detesto degustar um Puro acompanhado de um Whisky, e prefiro muito mais um Porto ou Cognac, mas isso é realmente uma questão de gosto.
O Cofre dos puros: O Humidor
Passamos então à mais importante questão deste artigo. Como conservar os charutos ?
Pelo facto de muitos dos aromas/sabores presentes no Puro terem sido gerados pelas transformações químicas ocorridas durante a fermentação e maturação dos mesmos, é inevitável que se percam em grande parte se os charutos forem submetidos a uma atmosfera seca (os charutos são higroscópicos, absorvendo e libertando humidade com facilidade, e quando perdem, uma grande parte dos aromas é irreversivelmente perdida também). É por isso que um conhecedor guardará os puros numa caixa de madeira de cedro (de preferência cedro espanhol, já que as outras variedades são de pior qualidade), com um nível de humidade controlado por um higrómetro (um medidor de humidade). Os higrómetros podem ser tanto analógicos (de «ponteiros») como digitais.
Figura: Um humidor de madeira de cedro espanhol, com 3 gavetas e higrómetro incorporado
Existe também o mito da superioridade dos higrómetros digitais, porque é suposto serem «pré-calibrados». É mentira. Qualquer higrómetro, analógico ou digital, à partida não está calibrado, e deverá ser em todo o caso re-calibrado periodicamente, o que pode ser feito usando o «Teste do Sal». Este teste baseia-se nos princípios básicos da termodinâmica e é muito simples de fazer, até para alguém que não entenda completamente nada de Química ou de Física. Basta colocar o higrómetro dentro de um tupper-Ware, acompanhado por uma tampa de uma garrafa de plástico, previamente cheia com sal de mesa vulgar e embebida e homogenizada com umas gotas de água destilada. Ao fim de 6 a 12 horas, se o tupper-ware for convenientemente fechado, deverá o higrómetro marcar 75%. Este valor exprime apenas o equilíbrio entre a fracção de vapor de água que se encontra na atmosfera fechada e aquela que permanece embebida nos cristais de cloreto de sódio (sal). A uma data temperatura, é constante e pouco varia de qualquer modo, dentro da gama de temperaturas que se encontram em casa. Se o higrómetro não marcar esse valor ao fim de 12 horas, saber-se-á em princípio pela diferença entre o valor medido e o valor «real» que desconto fazer na sua leitura. Pode-se então também regular o ponteiro para os 75%, se possível. Existe também a hipótese de o higrómetro estar afectado por um desvio que não seja sistemático, e nesse caso a questão é mais complicada, mas à partida, dentro da gama de valores que se pretende em termos de humidade, é pouco provável e perfeitamente suficiente efectuar este teste.
Figura: Um termo-higrómetro digital Credo, um dos melhores no mercado (à esquerda), um higrómetro analógico (à direita)
Figura:Um efusor de humidade (ou humidificador), da mesma marca: uma esponja de material poroso contida dentro de uma pequena armadura de metal ou plástico, que é molhada com água destilada
Pessoalmente, prefiro os higrómetros analógicos, não porque dê um ar de grande estilo na sala da casa de alguém que pendura os seus quadros de Gaugin, Matisse ou Dègas , ao som de sonatas de Mozart e com todo o bom gosto do mundo, mas porque são mais fáceis de calibrar e mais sensíveis às variações de humidade.
A Humidade «ideal»
Qual o valor de humidade ideal para guardar os charutos ?
Mais uma vez, surge o mito dos 70%. A resposta é que não existe um valor «exacto» ou ideal para todos os charutos, até porque depende mesmo do tipo de charuto, mas partindo do princípio que não vai comprar vários humidores e investigar o nível de humidade ideal para cada um deles, digamos que o nível de humidade se encontrará certamente entre os 60 e os 80%, dependendo do tipo de charuto. Contudo, para a quase totalidade dos casos, um nível de humidade superior a 70% apresenta o risco de desenvolvimento de bolores, que sem dúvida apreciarão o manjar tão bem quanto os deixar. É aceitável deixar o nível de humidade chegar aos 72 ou 73 % ocasionalmente, mas por experiência própria, não mais do que isso.
De uma forma geral, poder-se-á dizer que um nível de humidade entre os 65% e os 70% é o ideal. Inevitavelmente, haverá variações com as quais terá que aprender a lidar. Mas antes disso, a primeira questão que se lhe coloca, se pretende investir no hobby dos puros, é a escolha do Humidor. Pessoalmente, não aconselho a fazer isso se não estiver disposto a gastar algum dinheiro num bom humidor. Por outro lado se quiser ter um «stock» de bons puros, tipicamente, estará a guardar dentro do mesmo algumas centenas de Euros. Logo, um bom humidor não será nunca coisa barata, embora alguns vendedores apresentem material de qualidade em condições mais acessíveis.
Ao escolher o Humidor, prefira sempre uma loja especializada nos puros. As tabacarias vulgares ou as lojas dos centros comerciais, de uma forma geral, vendem este material caro e nem sempre da melhor qualidade.
Exija sempre madeira de cedro espanhol. Escolha um humidor com paredes espessas (cerca de 2,5 cm de espessura, no mínimo. Os humidores de paredes mais finas, muitas vezes mal construídos, não são bons em termos de manter um nível de humidade estável.
Prefira um Humidor de grande capacidade (não estou a falar necessariamente de armários !) e com gavetas. Os humidores de pequena capacidade apresentarão mais sensibilidade às variações de humidade quando são abertos. As gavetas, por outro lado, permitem compartimentar e arrumar os puros.
Prefira um humidor com higrómetro exterior. Mesmo que seja embutido na respectiva caixa (e portanto, amovível), o higrómetro pode sempre ser calibrado com um segundo higrómetro. Um simples higrómetro analógico barato poderá servir. Desta forma, poderá facilmente controlar o nível de humidade sem abrir a caixa – o que é mais importante do que pode parecer.
Um humidor deve estar cheio a pelo menos metade ou dois terços da capacidade. Isto ajuda a manter o nível de humidade nos valores correctos. Escolha por isso um humidor de tamanho adequado à quantidade de charutos que guarda.
A primeira tentação poderá ser encher o seu humidor novo com os charutos. Isto é uma péssima ideia, porque, dado que o humidor não foi devidamente climatizado, a madeira de cedro tenderá a absorver a humidade dos charutos, e portanto, secando os mesmos, que é exactamente o oposto do que se pretende.
Para climatizar o humidor, há quem passe um pano humedecido no interior do mesmo, o que pessoalmente não aconselho, porque pode não ser bom para a madeira. Em vez disto, a maneira mais fácil de não correr riscos será colocar o efusor de humidade, parcialmente embebido em água destilada, dentro do humidor e ter a paciência suficiente para esperar que o higrómetro, previamente calibrado, chegue aos valores ideais. Pode levar dias, ou semanas. Não encharque o efusor, não vale a pena. Algum volume da esponja deve ser deixado «livre» de água, de modo a poder absorver a humidade em excesso se quando necessário.
Infelizmente – sei que são más notícias – as esponjas que normalmente se usam como efusores de humidade não são muito eficazes, porque a sua capacidade de reter a humidade em excesso (se essa capacidade sequer existe na maioria dos casos), é muito fraca comparativamente à capacidade dos mesmos em gerar humidade. Tendencialmente, e sobretudo se viver num local relativamente húmido, pode vir a ter mais problemas com o excesso de humidade do que com a falta dela. Da mesma forma que o sal que se coloca na panela, é mais fácil pôr do que tirar.
O que acontece quando há humidade a mais na caixa ? Bem, a partir dos 70% (sobretudo a partir dos 75% de humidade) aparecem bolores. Estes bolores geram-se a partir dos esporos que existem no ar de qualquer casa e em qualquer lado. Os bolores são particularmente eficazes em reproduzir-se. É assim que sobreviveram milhões de anos Até no cabelo e na barba de alguns professores de Micologia se podem encontrar fungos e bolores !
Tipicamente, notar-se-á, neste caso, que os charutos começam a apresentar uma camada de bolor branco ou amarelo. Este bolor pode ser facilmente removido, normalmente, com os dedos ou com papel. A partir de um certo nível de humidade e após algum tempo de descuido, o bolor atinge as camadas internas do charuto e nessa altura, pode pôr o charuto no lixo. Muitas vezes este tipo de bolor mais agressivo apresenta uma cor esverdeada ou azul, mas nem sempre é o caso.
Aconselho vivamente, por isso, que utilize, em vez de um efusor de humidade ou em conjunto com o mesmo, um regulador de humidade. Existem diversos tipos do mesmo, alguns tecnologicamente mais avançados, cujo preço pode ser bastante elevado, e de difícil acesso no nosso país. A forma mais simples reside na forma de um pacote de cartão cheio com uma solução com água destilada, anti-bolor e sais minerais específicos. Estas soluções são preparadas de propósito para permitir estabilizar um determinado nível de humidade (70%, 65%, 72 %, etc), e são produzidas por diversas marcas. O preço não é demasiado barato e portanto, deve ponderar até que ponto compensa o investimento, já que a quantidade de saquinhos que terá de usar é proporcional ao número de charutos. Tipicamente, se possuir um stock de charutos dispendiosos mas em número reduzido, pode compensar francamente. Se tiver um stock muito grande, tratar-se-á já de uma despesa a ponderar. A maravilha nisto é que pouca ou nenhuma preocupação terá com os níveis de humidade, já que os saquinhos auto-regulam-se, absorvendo humidade em excesso ou libertando-a quando necessário. Apresentam um prazo de validade, que normalmente não atinge mais que alguns meses, após o qual novo «stock» de reguladores de humidade deverá ser comprado.
Uma alternativa interessante é utilizar as bolsas humidificadoras de transporte (normalmente vendidas nas lojas de charutos e que podem também ser uma alternativa para conservar durante alguns meses, pequenos stocks dos mesmos) dentro do humidor. Estranho ? Nem por isso. Tanto as bolsas humidificadoras como os saquinhos funcionam de acordo com o mesmo princípio do teste do sal: Usam soluções salinas de água destilada preparadas para gerar um equilibro que está associado a uma certa percentagem de humidade na atmosfera. Neste caso, a conta sair-lhe muito mais barata. Bastará para tal cortar as bolsas ao meio, conservando a parte em que está guardada a unidade humidificadora (basicamente, um pano embebido na solução correspondente e guardado dentro de um invólucro de plástico permeável). Colocando algumas dentro do humidor, terá um sistema de regulação que pode ser bastante eficaz e acessível.
Uma última opção, se não pensarmos nos reguladores electrónicos, será usar em vez de água destilada no efusor de humidade, uma solução aquosa de propileno-glicol. O preço destas soluções varia muito no mercado e a sua eficácia, desde que não se encharque a esponja com a mesma, é relativamente boa, mas mais reduzida que nos casos anteriores. Mais uma vez, o princípio é semelhante: A atmosfera dentro do humidor tende para os 70%, se a solução tiver aproximadamente 50 % de propileno-glicol para 50 % de água.
A Temperatura
Em relação ao factor temperatura, vigora o mito dos 70/70 (70% de humidade e 70% de temperatura - em graus Farenheit - o que significa, em graus Celsius, cerca de 21 graus. Na realidade, e à semelhança do que ocorre com a Humidade, não existe uma temperatura «ideal» (entre 18 graus e 22 estará em condições adequadas), mas não é acnselhável ultrapassar os 24 graus (poderá ter a desagradável surpresa de encontrar os charutos corroídos por um bichinho chamado de lasioderma serricone (o «besouro» do tabaco). Na verdade, muitas folhas de tabaco encontram-se á partida contaminadas por ovos microscópicos deste parasita e não são detectáveis a olho nú. Embora hoje em dia os fabricantes de charutos usem tecnologias próprias para a esterilização das folhas de tabaco (antes de produzir os charutos), pode acontecer que alguns dos seus puros (mesmo aqueles das melhores «famílias»…) estejam contaminados. É impossível saber, e de resto, qualquer apreciador de puros terá já alguma vez fumado um ou outro charuto nestas condições -sem que se coloquem riscos particulares em causa-mas, se ocorrer a eclosão dos ovos em alguma altura dentro do humidor, o nosso amigo Lasioderma serricone poderá arruinar a sua colecção em pouco tempo, «furando» os charutos e tornando-os uma espécie de queijo suíço.
Figura: charutos contaminados por Lasioderma serricone
O que fazer ? As opiniões diferem. Há quem defenda a chamada «quarentena» dos charutos, um processo que passa pela congelação dos charutos contaminados, guardados dentro de um saco de plástico durante um período de 24 a 72 horas e posterior re-armazenamento dentro do humidor, o que aniquila os ovos e os respectivos bichinhos. Algumas pessoas aconselham mesmo a esterilizar o interior do humidor com substâncias desinfectantes, colocar os restantes charutos sob uma cuidada observação, etc.
Pessoalmente, não gosto muito de insectos, logo, fica ao critério de cada um, mas não costumo dar-me ao trabalho de tentar recuperar os charutos contaminados. Uma observação cuidada do humidor é suficiente, em condições normais para evitar esta ocorrência (até porque rara). No verão, tente não deixar que a temperatura ultrapasse os 24 graus e coloque o humidor na divisão mais fresca da casa.
Charutos secos podem ser «recuperados»
Outro mito: Se o charuto for exposto a um nível de humidade demasiado baixo durante algum tempo (tipicamente algumas semanas ou um mês) isso pode ser o suficiente para o fazer perder uma boa parte dos aromas, bem como a humidade que continha esses aromas. Não é possível, portanto, «recuperar» a cem por cento. Algumas pessoam defendem ideias incríveis, como, por exemplo, colocar os charutos «doentes» dentro do frigorífico (em que os níveis de humidade, ao contrário do que se pensa, são consideravelmente baixos !) ou envolvê-los em folhas de alface ou dentro de sacos de plástico, com cenouras.
A não se que queira converter pessoas vegetarianas ao hobby dos charutos, ou degustar charutos com aroma a legumes, é uma ideia no mínimo peregrina. Um charuto seco deverá ser simplesmente colocado no humidor e esperando-se que, à medida que o tempo passe, esteja ainda em condições de ser saboreado, menos seco e mais saboroso, mas nunca com o nível que poderia ter mantido noutras condições.
Temperaturas baixas
Não existe nenhum «limite» de temperatura abaixo do qual se torne pernicioso para os seus puros (desde que não os congele), mas alguns autores referem uma temperatura mínima de 12 -14 graus. Temperaturas muito baixas dificultam a maturação dos charutos (sim, é verdade, os charutos «envelhecem» como os vinhos, melhorando de sabor !), mas tirando esse facto, nada há a dizer.
O mito da Humidade Relativa e da sua «variação» com a temperatura
Alguns «peritos» defendem que, dado que com o aumento de temperatura, a quantidade de vapor de água que a atmosfera do ar consegue conter aumenta, o nível de humidade do Humidor deve ser regulado em função da temperatura, e portanto, a temperaturas mais baixas, devemos compensar com níveis de humidade mais elevados. Isto é falso.
Convém aqui esclarecer várias questões:
Primeiro, a Humidade relativa mede a proporção de água presente na atmosfera relativamente àquela que o ar consegue conter (100%) a uma dada temperatura. Uma vez que essa temperatura varia, o valor de humidade lido pelo higrómetro não pode ser mais observado como um valor fixo em termos daquilo que se pretende para o humidor. Ou seja, é meramente indicativo da gama do nível de humidade necessário para conservar os puros (65-70 %; 62-70%, 65-73%, seja o que for).
Segundo, a temperaturas mais elevadas, a humidade (as moléculas de água contidas nos charutos, associadas aos açucares e às proteínas das folhas de tabaco), tendem a libertar-se e atingir a fase gasosa. De onde, deste ponto de vista, deveríamos de facto procurar níveis de humidade mais elevados a temperaturas mais elevadas e não o oposto.
Terceiro, dentro da gama de temperaturas em que é suposto conservar a sua colecção (entre 18 e 22 graus ou, digamos, entre 16 e 22 ou 16-21, etc…) não existe variação apreciável em termos da humidade na atmosfera do humidor que justifique qualquer medida de controlo deste género, sobretudo porque de qualquer modo a gama de níveis de humidade e de temperaturas adequadas para a conservação dos puros já não é «exacta» ou «fixa» à partida, mas aceita uma variabilidade moderada que é difícil normalizar em termos de valores exactamente determinados de forma constante.
Logo, e desde que mantenha o «cofre» dos puros dentro da gama de humidade e temperatura aceitáveis – quanto menos variações, melhor-estará tudo bem.